Um cenário de terrível desastre assola Lisboa. Poderia ser em qualquer outro lugar do mundo. Os escombros passam a ser paisagem, a cidade e as relações humanas transformam-se vertiginosamente. Entre os sobreviventes há um homem, um velho editor. Procurando amigos e amores desaparecidos encontra um manuscrito e um rapaz e, neles, a porta para uma outra dimensão da vida.
Por Este Mundo Acima é uma peregrinação futurista e um relato de memória. Consagração dessa melhor forma de amor a que chamamos amizade, é também uma história sobre a importância redentora dos livros.
Opinião
Algumas pessoas dizem que é fácil dar opinião dos livros que mais gostamos, eu cá discordo. Para mim, é uma tarefa extremamente difícil. Isto porque, quando se chega ao seu final, as emoções e sentimentos são tantos, que é impossível de os transmitir de forma clara para o papel.
Foi o que aconteceu, após ter lido esta obra. Uma estreia absolutamente espantosa, da escrita de Patrícia Reis.
O que poderei dizer eu, desta obra?
Tem um tema que me cativa em particular, a amizade.
“Quando te vi no hospital, Lourenço, percebi porque é que a amizade é a mais transformadora das forças humanas.”
Acho que, apesar de a escrita ser um acto muito solitário, a amizade foi sem dúvida a alavanca essencial para o lançamento desta obra. Atrevo-me a dizer, que a autora Patrícia Reis acaba por reflectir esse sentimento tão pessoal no decorrer desta narrativa. Só mesmo quem sabe o que realmente é a amizade, sabe transmiti-la desta forma.
“Livros nos quais a amizade predomina, livros luminosos que, não sendo lamechas, nos revelavam a vasta matéria dos sentimentos que definem a condição humana.”
Para além da amizade, existe a esperança e o renascimento. Encontro-os em Eduardo e Pedro, as personagens centrais desta história, eles que são sem dúvida a essência de todos os sentimentos transmitidos.
Tudo começa, como a sinopse refere e bem, com um terrível desastre que assola Lisboa. Eduardo é um dos sobreviventes, é através dele, que vimos o cenário de devastação em que se encontra, após o acidente.
“Não restava nada. Não se via ninguém. Sentei-me, suado, sem saber para onde seguir. Estava convencido de que o nada tomara conta de tudo. Não havia solução. O futuro estava longe, longe de acontecer.”
A consequência deste acidente, está muito para além do que vemos. Eduardo perde todos os seus amigos, aqueles que conhecemos perante os momentos que vai revivendo e é com muita saudade que o faz. Chego mesmo a sentir a sua dor, a dor provocada pela dúvida da sua existência, a procura de um sentido e da esperança.
“Não restam muitas soluções de sobrevivência e não compreendo por que escapei. Sou uma sobra da maldade humana. Sinto essa injustiça.”
Quando encontra Pedro e um manuscrito que lhe tinha sido entregue, tudo muda. É em Pedro que encontra o sentido.
“Depois dos amigos, da vida que tivera, Eduardo centrou tudo nele, o miúdo dos destroços.”
É no manuscrito que descobre a esperança.
“Não é a salvação, o mundo está para lá disso, contudo o meu coração adormecido acordou, acordou da melhor forma. (…)O livro é quase premonitório, fala do futuro e da forma como não seremos capazes de combater um lado mais forte das coisas terríveis. Confesso-te que estou em paz com a ideia de vivermos com essa bipolaridade do bem e do mal, temos dois lados, somos assimétricos: num condensamos o positivo, no outro está o que pior podemos pensar ou fazer.”
Um livro maravilhoso, que mexe com o nosso interior, que desponta até os sentimentos mais recônditos.
De um ponto de vista mais técnico, adorei a organização desta obra. O que mais destaco, são as listas apresentadas durante a narrativa, listas que adjectivos, objectos, etc…Um toque original, que dá uma apresentação única desta história.
Escrito de uma forma simples e genuína, mas extremamente tocante, Patrícia Reis consegue transmite-nos uma mensagem lindíssima. Um livro para mim, marcante e único.
Recomendo.
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gostei do blog :)
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