“Tenho um tumor gigante no pâncreas. Alguns dos tratamentos conseguiram reduzir um pouco o seu tamanho, mas não o suficiente para poder ser operado. Sei bem o que isso significa.
Neste momento, e porque não há outra forma, vivo um dia de cada vez. Deixei de fazer planos para a frente. Não sei o que me espera no futuro, mas isso agora também não importa, o que interessa é o aqui e agora.
Ao longo deste quase último ano e meio percebi que o meu estado de saúde deixou de ser um tema que me diz respeito apenas a mim, à minha família, aos meus amigos e àqueles de quem sou próximo.
A minha doença deixou de ser apenas um problema que é meu, de alguma forma deixou de me pertencer. E isto sucedeu aos poucos, à medida que a onda de apoio e solidariedade à minha volta foi crescendo e ganhando forma. Assim nasceu a ideia deste livro.
A mensagem principal que quero deixar às pessoas é que se há um problema é preciso resolvê-lo da melhor maneira, há que não ficar quieto, há que tentar de tudo primeiro, nunca desistir.
Se as pessoas começarem a parar por um momento para olhar para casos como o meu, ou, simplesmente, para a sua própria vida com olhos de ver, talvez comecem a relativizar os seus próprios problemas e possam perceber o que de facto vale a pena na vida. Talvez assim a consigam aproveitar melhor.
Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros!!”
Opinião
Neste livro António Feio fala da sua vida, mas mais importante do que isso, deseja transmitir uma mensagem a todos aqueles que estão a passar por uma situação igual ou semelhante à dele. “ (…) uma mensagem que inspirasse os outros, que lhes mostrasse que valia a pena continuar mesmo quando só queriam desistir. “
Esta leitura foi muito especial, fez-se acompanhar da tão familiar voz desta figura pública tão querida. Aquela voz que tão bem conhecia do espectáculo “ Conversas da Treta “, um dos maiores êxitos da carreira memorável de António Feio.
Apesar da noção que tinha do seu estado de saúde, durante toda a narrativa, não deixou de nos deliciar com o seu bom humor, este dom tão especial que lhe foi atribuído e que encantava todos nós. Um dom que ajudou a contribuir, para uma mudança nos hábitos de consumo teatral em Portugal .
Perante o espírito tão optimista e coragem que demonstrou durante esta longa caminhada, não acho justo o desfecho que esta história teve. “ (…) ele tinha decidido encarar esta dificuldade, recusando-se a cruzar os braços e esperar que o seu momento chegasse. “
No entanto por mais que lidasse de forma positiva com esta doença, era inevitável negar a sua presença ou fazer conta que não existia, pois o simples facto de olhar para o espelho era um puro reflexo do que era a realidade.
A ideia da morte acompanha-nos durante toda a vida e por muito que nos custe, temos de aceitar que não somos imortais, aceitando-a com tranquilidade. Esta é a realidade…
Aprendi muito com o seu relato, principalmente a importância de se valorizar a vida e de viver um dia de cada vez.
“ Como diz uma das máximas dos cuidados paliativos : « os que estão a morrer, ensinam-nos a viver ».
Não posso deixar de admirar a fantástica colaboração de Maria João Costa, editora e autora deste projecto. Que após muitas horas de conversa com António Feio, juntou nesta obra vários dados biográficos do actor, alguns dos seus textos, fotografias e testemunhos directos de pessoas que lhe eram próximas.
“ Este livro nunca poderia ser uma biografia(…)é um género de livro cujo género é aquele que apelidamos de auto-ajuda. Este livro não é mais que uma mensagem de vida. “
Mensagem que transmitiu de forma muito simples e transparente, características próprias do discurso do actor António Feio.
A forma como lutou mesmo sabendo que a probabilidade de cura era muito baixa é um exemplo a seguir. Além disso, mostra-nos logo no inicio do livro que a vida não é fácil e explica-nos os esforço que teve que fazer para triunfar naquilo que tento gostava de fazer, fazer teatro. É sem dúvida uma boa leitura.
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